domingo, 12 de julho de 2009

Vou confessar o quanto é pequena

Vivendo a minha vida burguesa
Conheci Natasha.
Bela Natasha!
Cheia de vinho nos olhos
E vodka nos beijos.
Cheia de gracejos
E braços embriagados.

Natasha!
Sempre afogada num mar de sutilíssimos sorrisos
No desequilíbrio entre a noite e a ressaca.
Lançava aos idiotas
Seu perfume ardente, vertiginoso,
Seu destino de vento
Seu único espinho.

Pobre esse meu mundo superficial:
Organizado
Regrado
Hostil;
Nos limites da loucura bem aceita
Na margem do pseudo-intelectualismo.
Banal!
Como pretensioso
Pobre mundo burguês.

Cambaleante,
Música dilacerante para os olhos,
Vinha ela.
Por mais ébria que estivesse
Ainda mais sóbria do que eu sempre estive.
Ralhava as suas baixezas aos meus ouvidos.
Hálito alcoólico, melódico e demolidor.
Açoitava em soluços bêbados
Esse muro frio, moral e sem valor.
Meu!

À deriva
Rolando por ruelas
Como garrafas pelos oceanos
Abria-me suas cortinas, brisas, betânias,
Seu cheiro de pitu.
Bebia-lhe toda
Tragava-lhe por inteira:
Suas noites frouxas
O seu jeito de rameira
O futuro de estrela do mar.

A dor
E a cama de uma vagabunda.
Suja.
A minha consciência imunda
Transpira, escorre
Por essas curvas angulosas
Como uma dose de cachaça
Na garganta
Nos olhos
Ardendo lágrimas ácidas
Chorando desejo.

Incomodou,
Sendo vulgar,
Maculou o manto puro de minha hipocrisia.
Atire!
Pois, supremo,
Soberbo,
Conservei-me no degrau mais frágil e orgulhoso
Da minha engraçada classe média.

Nunca!
Pois nunca terei aqueles abraços
Aquele corpo em cima de mim
As mãos em meu rosto
A língua
As unhas
As marcas
A lembrança de fogo.

Era Natasha.
Para mim,
Vestida de cerveja,
Para outros,
De Puta Safada.

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