domingo, 12 de julho de 2009

Chão de taco

Deito-me:
Seja o frio desse azulejo
Tão úmido quanto um dia de chuva
Quanto o ar cortante
E a placidez de um rio.
Que sejam os meus sonhos mais obscuros
Tão insondáveis quanto as profundezas de um oceano
Como uma mata virgem
Uma noite soturna
Como um bosque noturno e escondido.

Velejo sobre essa cerâmica espessa
Resvalo o meu cansaço nas folhas ainda molhadas
Intrépido nessa superfície
Com meu corpo escangalhado
Solitariamente
Sob essas margens
À deriva
Pelas frases curtas
E as palavras parcas.

Sozinho
Numa gaveta,
Trancado a chave,
Cheio de dúvidas,
Ausente de mim, dos outros,
Líquido, como sempre.
Vou mirar para além,
Para além dos horizontes aparentemente alegres.

Serei a nebulosidade
Afugentada pelo Sol
Erguer a régua dos empreendimentos sensíveis
Ritmar os passados remotos
Que resistem em viver
Insistentes, arrogantemente eloqüentes.
Estão ainda a deslizar
Na vastidão dos séculos
Oblíquos como alguns olhares
Vindouros
Atraentes
Para toda trajetória ofegante
Semelhante a ladeira da misericórdia
Em sua íngreme eternidade.

Pois então,
Permaneço deitado.
Um abismo infindável
Abre-se sob mim.
O meu rosto continua colado ao seu
Ao chão.
As idéias absortas
Presas a minha cabeça
São sujeiras de uma mente encardida, enferma,
Destruída pela guerra
Por esses filósofos incautos.

Como um relacionamento mal resolvido
Termino esse drama
Termino essa bosta.

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