sábado, 13 de dezembro de 2008

Direto

Vai pular,
Saltar de braços abertos,
De olhos fechados,
Com os pés no chão.

Dispersar os encantos da mente,
As vontades do corpo,
O olhar perdido,
Com a boca rija, fechada,
Sem dentes.
Atirar água no fogo,
No dia quente,
Pois é Olinda, é Jaboatão, é Recife.

Escrever inadvertidamente
Coisas bestas, sobre as mulheres.
Coisas bestas.
Adorar besteiras,
As mulheres, o seu cotidiano,
O que é terreno,
O que está mudando
E mais uma vez,
Às mulheres!

Vai falar sem ter medo,
Sem muita firmeza,
Com cautela, sem muito drama.
Com lágrimas pedir desculpas.

Dar um cheiro na nuca,
Um beijo na boca,
Levar pra cama
Sem receio, apaixonado,
Com temperança, mas apaixonado.
Falar o que há de mais trivial, verdadeiro e gostoso:
Eu te amo!

economia dos sentimentos

Uma esfera de esperança,
Uma espera sem confiança.
Finanças dos sentimentos.

Se é Sol

Tem à vista um quadro negro
Com flocos de neve,
O breu, sendo clarão.
Viu de tudo em sua vida.
Quase sempre sob sua excelentíssima imagem,
Quase sempre cego.
Tem uma vela ao seu lado,
O seu dia que, mesmo assim, não é claro.

Não se importa se é Sol,
Muito menos se ilumina tanto,
Se esquenta algo,
Se leva vida.
Morre na ausência de si,
Na escuridão do Universo,
Nas distâncias luzes,
No amarelo eterno,
Na solidão.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A tua riqueza e teus olhos fechados são mais cômodos.
Que pereçam os outros nas suas pobrezas
E com seus olhos arregalados
A tudo aquilo que é verdadeiramente real.
Quando cair o anoitecer,
Quero todas as luzes apagar.
Deixem somente as faíscas estrelas,
Para, pulsante, o mundo inteiro piscar.
Com os seus pontos de linha tecer
A galáxia toda e suas constelações,
As imensidões de sonhos,
Que no fim vislumbram o amanhecer.
Tanto tempo a ser construído,
E por fim o que resta é dor,
Pois é amigo, é amor,
Todo sentimento esquecido.
Olha o mundo inteiro e não ver nada,
Tem um buraco nos olhos,
Está fadada a não sentir dor,
Nem muito menos amor,
Pois o não sentir, está em não ser amada.
Um vidro sem cor,
Um fruto sem flor,
Não é fruto, é nada.
Um gesto simbólico e glacial.
Não é sangue, é cal,
O que escorre dentro de mim,
Deixando minhas expressões pálidas,
Mínimas.
Temperaturas nulas de abraços tépidos.
Um falar tenso
Que não quer dizer nada.
Inexpressivas palavras.
É um digo eu te amo
De molhar tempestades plácidas.
O desamor que não dói,
Petrifica.
Não dá para assistir o que foi apagado,
Nem há grito sem ter ouvido.
Mostro o cancro no peito inciso,
Dilacerado pelas do passado.

Não produz remorso nem se reduz,
Seja na luz do quarto ou de outra cruz.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

As coisas

As coisas.
Elas me escapam sempre
Com a simplicidade de quem não quer.
Não adiantam abraços,
Não adiantam beijos,
Não adianta nada.
O tempo passa
E aquela fotografia continua parada
Na minha cabeça,
Com a minha risada,
Dos dias que não riscam,
Mas que pedem, pelo amor de Deus,
Que eu desapareça.

As coisas me inundam as casas,
Quebram os objetos,
Rasgam as roupas já rasgadas,
Vão embora sem dizer, ao menos,
Uma palavra.
De consolo, deixam a inércia,
As eternas marcas,
Tatuagens violentamente cravadas,
Nesta pele de mágoa,
Nestas mãos soltas,
Neste dia infeliz.

As coisas me impedem o sexo,
Colocam, na minha mente,
O que querem que eu, na mão, ponha,
Fazem-me voltar à adolescência, com aquelas dezenas de bronha,
Me obrigam às lágrimas,
Me designam para solidão.

É um carinho que não compromete,
Discreto, sem nenhuma cobrança.
Contra a minha força,
A delicadeza do amor que mata,
Que para qualquer nuvem
No céu que canta.
E é esse meu canto, meu sentido.
Vagar em círculos,
Como uma nuvem estática,
Sofrendo as queimaduras do sol,
Sofrendo com a indiferença das coisas.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Asas de ilusão (ou Suicídio)

Asas de ilusão (ou suicídio)

Voar.
Ter asas e voar.
Sonho de nuvens
De qualquer ser humano.
Pairar no subjetivismo
Mais azul e ausente.
Criar, com lágrimas,
A sua própria chuva.
Fugir desse mundo louco,
Tão sentimentalóide,
Quanto corrosivo,
E voar o vôo dos pássaros,
Que apreciam tranqüilamente
Essa dor palpável.
Não tenho um sorriso afável,
Nem um abraço delével,
O que tenho é a brisa do corpo
E a lembrança de fel.

Oh! Pôr do sol!
Não se ponha para o dia,
Poupe-me a vergonha e a agonia,
Não quero, na minha vida,
Também anoitecer.
Não! Eu quero!
Eu quero mergulhar nesse sol rápido, fundo.
Quero nunca chegar ao finito, ao escuro.

É nesta terra rasa,
Que eu me esfacelo,
Que eu mergulho na vertical,
Na planície mais chocante,
No salto mais arrependido,
Fresco como uma dor de lágrima em frente ao mar,
Como um dia triste,
Em que dou risadas do horizonte,
Desafiando-o a prever meus passos insensíveis.

A tristeza bem sentida,
Bonita como o nascer.
Dolorosa, enfim.
Natureza de ser.
Preferi assim,
Calmo, choroso,
Ouvindo o silêncio das primeiras estrelas.
Escutei-as cantando para mim.

Quando a coragem falhou,
Veio o vento e me deu um empurrãozinho.
Fui caindo, dormindo...
De braços abertos,
Recebi a minha flor e meus espinhos.
Adormeci num sono eterno e longínquo.
Acabou. Não mais existo.

“A morte é um fim, é claro,
mas acima de tudo,
um fim bonito.”

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Perturbador

Os meus olhos dotados de um profundo vazio
Agora se enchem do teu reflexo.
A distância que existe entre nós
Fez-me abrir a caixa do peito,
E assim, num desespero,
Sair puxando tudo que é veia,
Artéria, vértebra.
Definhando todos os órgãos.

A cada metro distante,
Era um coração que eu esmagava;
A cada um perto,
Minhas narinas indicavam,
Meus dedos eriçavam.
Meu corpo era um grito fustigado,
Abelhas zunindo liquidificadores
Nessas securas infernais.
O suor escorria como uma gota de tapa.

A pele perfumada...
Cada fungada era capaz de deixar a pele rasgada.
O contato, pois de forma violenta,
Pondo marcas no pescoço,
Nas costas e cabelos nas mãos.
Tocava tuas costelas
Como que numa canção convulsante.
Meus olhos, meus olhos, meus olhos!
Enchiam-se dos teus.
Teus lábios sangrando nos meus,
Um mar revolto, suculento, salgado.
Uma lembrança de dor, esquecimento.
Meu corpo dentro do teu.
Braços, pernas, peitos, bocas, línguas,
Dentes, gargantas, cabelos. Tudo em crescimento.

É rápido, escuta! Por favor!
Aqui não há espaço para o amor!

sábado, 27 de setembro de 2008

Às avessas

Me turva a mente,
Me extrai um pouco de luz.
Me faz fogo,
Me agüenta, me seduz.

Me traz as vestes pretas dos anjos.
Me tinge a tez de negro.
Me faz revoltado,
Me coloca o desapego.

Me aguarda, me dobra,
Me cobra, me guarda.
Me ventila nu.
Me quebra a razão,
Me tora as veias do coração.

Me reconfigura o amor,
Pois se é dor que o mundo oferece e traz,
Amando-a desse jeito assim,
Talvez eu ame ainda mais.

Rebordosa Dinamite

No meu pensamento,
A garganta raspava o ruído das palavras.
Subjetivismo: Que voz é essa
Que me esbugalham os olhos
E me arranca a laringe?
A pergunta ia...
E voltava recobrada de respeito,
Deixando-me os dedos entrevados,
As cordas vocais tensas.
O peso era tal que,
Eu golfava e engolia
Estômagos, esôfagos. Úlceras...
Aquele líquido amarelo, meio verdoso,
Parecia-me vir do cérebro.
Não tinha tanta certeza.
Meu pensamento se materializava
Num vômito crítico e involuntário.
Estaria naquela contração,
Convenhamos que um tanto mórbida,
O meu invólucro existencial?
Seria ela, a bile,
O escorrimento da minha existência?
A personificação do animal?
O engulho da consciência?

A comiseração do Ente
Emanava de suas entranhas mais infaustas.
Saia do buraco doente,
Das palavras cancerígenas da boca.
E eu, como que numa espécie de transe,
Falava, falava, dizia,
Na inconsciência desse rosnado animal,
Refletindo nas nuvens sobre o tempo.
Porém veio-me à tona,
Que das minhas ações de ser humano,
Ação factual,
Não diverge nenhum outro ser,
Nem tampouco o vegetal.

Um final de acidez.
Dou outro gole de cachaça.
A rebordosa, a ressaca,
Vinha como uma onda
E suas gaivotas matracas,
A extorquir, a espremer
A última gota deprimente,
Daquilo que é velado, da contradição.
Daquilo que é vil,
Daquilo que é vão.
Da imensidão supracósmica do Ser.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sentimento Bruto (ou instinto)

Solidão.
Mãe instigadora
De olhos fúnebres e desolados.
Escuridão.
Lamparinas incandescentes
Em universais infinitudes.
Atmosfera desconhecida
De lúbricos polens.
Desvarios agudos,
Abstinências deprimentes.

Frenético, frenético, frenético.
Fragâncias, ofegâncias, truculência.
Frenético, frenético, frenético.
Luzes, vozes, vídeos, vezes... Vezes!

Aspereza.
Respiração estertorosa,
Coro sinfônico instintivo.
Camada.
Delicada parte limpa,
Corporal, apertada num trovão
De gotículas excretadas.
Suor.
Bárbaras expressões cálidas,
Lívidas relações fétidas.

Um desespero quase místico,
Um gozo quase orgástico.

Fricção, fricção, fricção.
Vultos, violência, vultos, violência.
Fricção, fricção, fricção.
Erupção. Prazer, estrago.

Plenitude.

Árvores secas (ou carpideiras mudas)

Tuas lágrimas caem.
Levemente elas desabam,
Transcendentes, elas abalam,
Melhor, pior, saem.

Lembro-me bem.
Conceitos e princípios repensados,
Avançava meus pensamentos pensando no passado,
Arriscava tudo como quem nada tem.

A perder, aprendi e errei.
Me conter, senti e soltei.
Procurando a melhor frase esqueci,

Lembrei de que era importante mentir,
E foi em mim mais intrigante sorrir,
Fechado de uma maneira quase sem chance. Vivi.

Tranquilidade de Momento

Sentado num sofá...
Na frente ia o tempo, como um filme, passando.
Pelas janelas das curtas relações verdadeiras,
Eu me alastro com um tênue toque de felicidade.

Esparramo o frio sóbrio da mentalidade,
Numa agitação de quem quer a morte,
Desviando o olhar como tendo medo
De um futuro tranqüilo, sem passado e corte.

Eu pulo no breu das coisas claras,
Acho um penacho do amor esquecido,
Lembro-me das dores, dos risos lascivos,
E os abraços destinados a alguém grosseiro.

Um Beijo no Vento

Eu tenho os braços para abraçar
E a simplicidade de amar.
Mas amo grande
E de carência afável.

Com um beijo estalo,
E aquela fogueira me acalenta o corpo
Que nas noites paro,
E sobre o seu ouvido
Cochicho línguas e toques
De virar os olhos.

É assim...
Passo as mãos em teus cabelos,
Como bem aliso o trigo,
E como que flutuando na violência estúpida
Dum estupro,
Amo-te numa pastagem
De alegres gemidos.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Árida

Seja o mar.
Bata contra as pedras.
Fure, acalente, molde.
Erga-se numa treva, numa tempestade,
E cuspa a sua espuma de raiva.

Mire a fresta.
Reclame a si o que foi seu.
Embale, acabe e afogue.
Afunde impetuosamente todos os barcos
E avance toda margem que te restringe.

Aconteça majestosamente.
Engula, mesmo o que já foi digerido.
Vá e volte, arrebata e escureça,
Enxuga no teu banho toda lágrima seca.
Destrói na tua ressaca todo olhar ressacado,
E permita aos loucos por amor, que mais uma vez esqueça.

Embriague as almas dos desalmados.
Arranque a última pétala dos apaixonados.
Corte-lhes a dor, a expressão. O amor.
A ultima lâmpada do juízo. A cor.
Esfole como se fosse pele.
Sangre como se fosse uma terra seca.

Variações

Há quem olhe o passado e veja dor,
Admire o futuro e morda a língua
Em confusão, sufocado com a delícia,
De um presente incógnito e traidor.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

E o fim

As luzes entraram.
Apagou.
O vento sopra.
Secou.
Vai embora agora!
Depois.
Te espero vida:
Corredor, parado, sempre, tanto.

Aperto o interfone.
Não é.
Chamo o elevador.
Não chega.
Durmo no chão.
Não triste.
Vou-me cansado:
Desperto, cuidadoso, morrendo, acabo.

Mister de um bosta

Esquecer...
Não tenho o dom de escrever,
Nem me esqueço,
Mesmo assim ainda escrevo.

Nem compor, nem esculpir,
Ainda sim eu canto
O prejuízo de me encantar
Pelo que não domino.

Pela vida, pela morte.
Qual eu sigo?
Entre o amor e o ódio.
Qual exploro?
Apelando ao desespero um sentido,
Que não me leve ao velar de um velório.