sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Asas de ilusão (ou Suicídio)

Asas de ilusão (ou suicídio)

Voar.
Ter asas e voar.
Sonho de nuvens
De qualquer ser humano.
Pairar no subjetivismo
Mais azul e ausente.
Criar, com lágrimas,
A sua própria chuva.
Fugir desse mundo louco,
Tão sentimentalóide,
Quanto corrosivo,
E voar o vôo dos pássaros,
Que apreciam tranqüilamente
Essa dor palpável.
Não tenho um sorriso afável,
Nem um abraço delével,
O que tenho é a brisa do corpo
E a lembrança de fel.

Oh! Pôr do sol!
Não se ponha para o dia,
Poupe-me a vergonha e a agonia,
Não quero, na minha vida,
Também anoitecer.
Não! Eu quero!
Eu quero mergulhar nesse sol rápido, fundo.
Quero nunca chegar ao finito, ao escuro.

É nesta terra rasa,
Que eu me esfacelo,
Que eu mergulho na vertical,
Na planície mais chocante,
No salto mais arrependido,
Fresco como uma dor de lágrima em frente ao mar,
Como um dia triste,
Em que dou risadas do horizonte,
Desafiando-o a prever meus passos insensíveis.

A tristeza bem sentida,
Bonita como o nascer.
Dolorosa, enfim.
Natureza de ser.
Preferi assim,
Calmo, choroso,
Ouvindo o silêncio das primeiras estrelas.
Escutei-as cantando para mim.

Quando a coragem falhou,
Veio o vento e me deu um empurrãozinho.
Fui caindo, dormindo...
De braços abertos,
Recebi a minha flor e meus espinhos.
Adormeci num sono eterno e longínquo.
Acabou. Não mais existo.

“A morte é um fim, é claro,
mas acima de tudo,
um fim bonito.”

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Perturbador

Os meus olhos dotados de um profundo vazio
Agora se enchem do teu reflexo.
A distância que existe entre nós
Fez-me abrir a caixa do peito,
E assim, num desespero,
Sair puxando tudo que é veia,
Artéria, vértebra.
Definhando todos os órgãos.

A cada metro distante,
Era um coração que eu esmagava;
A cada um perto,
Minhas narinas indicavam,
Meus dedos eriçavam.
Meu corpo era um grito fustigado,
Abelhas zunindo liquidificadores
Nessas securas infernais.
O suor escorria como uma gota de tapa.

A pele perfumada...
Cada fungada era capaz de deixar a pele rasgada.
O contato, pois de forma violenta,
Pondo marcas no pescoço,
Nas costas e cabelos nas mãos.
Tocava tuas costelas
Como que numa canção convulsante.
Meus olhos, meus olhos, meus olhos!
Enchiam-se dos teus.
Teus lábios sangrando nos meus,
Um mar revolto, suculento, salgado.
Uma lembrança de dor, esquecimento.
Meu corpo dentro do teu.
Braços, pernas, peitos, bocas, línguas,
Dentes, gargantas, cabelos. Tudo em crescimento.

É rápido, escuta! Por favor!
Aqui não há espaço para o amor!