quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Escavadeira

Cava e mais afunda,
Cava e mais afunda.
Um exercício intelectual:
Aprende, embrutece, executa!
O automático dínamo racional.
Risco e mais perco,
Risco e mais perco.
Me perco só,
Me pego só
Na dança, dança, dança...

Com o intuito de quem quer atingir um sonho
Cabe-lhe sepultar mais de um defunto,
Mais de uma obra inacabada.
Execrar com porras e caralhos
Tudo que é sagrado.

Cava e afunda
Cavo e mais me afundo.
A fundo, findo este momento... Profundo.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O pressuposto é primo do bosta

Existe uma poesia dentro de mim
Que não consegue nascer.
Precisa falar,
Quer querer, voar, fluir
Como os cabelos na cabeça
Não mais atendendo ao verso clichê
À rima exata do crescer.

Na minha cabeça não são só os cabelos que crescem,
Também os versos
As ideias forçadas
Os pensamentos confusos
De um medíocre entusiasta.
Uma vez como agora,
Outra vez sem cria
Lapidando o mau verso
Como um perfeito imperfeccionista,
O tirano dos frutos inférteis,
Da incapacidade lírica.

O conteúdo da música
É a melodia,
A emoção musical posta nos acordes,
O trote rítmico desse vento,
O preciso e conflituoso movimento do mar,
Das ondas.
O salgado gosto de vida.

A poesia é mais ou menos assim.
Com a leveza do vento,
Com o bafo quente de uma noite tropical.
Com o irritadiço,
Com a demência,
Com o trator das palavras pesadas
Esmagando as nossas almas
Neste instante reunidas nesses papéis,
No refúgio do nada,
Gravando aqui, com a tinta das canetas,
O nosso sangue ruidoso
Ou nossa alegria clemente.
Tanto faz.

Ser incrédulo,
Ser indiferente,
Ser pessimista...
Prefiro ser alegre.
Alguém acredita nisso?
Mas é sério!
Ando deixando de lado
Todas aquelas reflexões profundas sobre a vida.
Faço um esforço tremendo hoje.
Mil vezes a superficialidade!

A poesia não é uma ciência
E sou burro demais para entendê-la assim.

Já é noite

Por favor,
Calem-se!
Estou cheio de vocês.
Já fiz meus afazeres,
Trabalhei o dia inteiro
Agora calem-se!
O que há com vocês?
Não conseguem ficar um minuto sem escutar as próprias vozes?

Estou cansado,
Com dor de cabeça
E os olhos prontos pra mais uma seção de sonhos,
Só preciso de silêncio.
Coisa tão simples, boba...
Não temam,
Ele não morde
Nos ajuda até.
Faz os nossos olhos olharem pra dentro do nosso corpo
Tão cheio de carne
Assolado por vãos indigentes.
Cada órgão funcionando na sua solidão
Comunicando-se através de enzimas,
De sangue.

Sentados
Olhando aquele horizonte apagado
Sem muito a dizer, andamos.
A cada paço um tanto de vida
E um tanto de vida para cada paço que damos...
Falem alto!
É preciso se jogar no silêncio
Para entender por que gritamos...

Como nossas forças se diluem facilmente nas águas do tempo.
Nas águas do tempo nossas vidas embarcam num caminho sem volta,
Ficam à deriva dos bons ventos
Ou das tempestuosas ressacas do mar.
Como é engraçado esse nosso fim.
Como é frouxo e dispendioso esse sorriso sem graça.
É o que nós somos:
Um poço melancólico de esquecimento,
Seres filhos de órfãos,
Um corpo sem identidade
Cheio de inconsciente,
A vida em uma só palavra:
Reticência

“Ô, rapaz! Zoada.
Eu quero dormir.”