domingo, 12 de julho de 2009

Cosmolidão (ou somente Pássaro)

Sou eu.
Sim,
Agradeço a todos que me puseram no galho mais alto,
Mais perto do universo,
Mais longe dos humanos.
De toda a minha humanidade.

Agradeço,
Pois hoje sou um pássaro:
Pairo por toda a miséria
Como o humano mais insensível
E o animal mais feliz.

Suave sobre as guerras,
Incisivo sobre as prezas,
Canto, debilmente,
A indiferença desse vento,
Desse tempo levando-me como pétala solta nos terremotos do esquecimento,
Nas catástrofes das paixões.

Rasgo o céu como um raio.
Acerto!
Cravo, fatalmente,
Minhas garras no choro do pôr-do-sol.
Somente escuridão.
Meus olhos refletem estrelas
E minha boca pede coração.

Bato as asas.
O infinito
Como um pai severo
Olha-me em silêncio e receoso.

Mais adiante, mais adiante!
Só eu posso voar.
Mais altura, às alturas!
Até onde o Sol possa me queimar.
Depois de mim
O Sol não irá mais pingar seus dias
Nem tilintar suas luas.
Depois dessa noite
O infinito tremerá
E suas flores bailarão
Nesse imenso jardim apocalíptico.


Oh, os grandes dias!
Os grandes dias...
Onde estarão a me esperar?
Quando o grito do inferno
Assumirá o paraíso?
Como a minha transcendência
Vislumbrará os precipícios do real?

Aceite esta ajuda.
O que lhe ofereço não é vida
Nem é amor.
Tenho uma parede de luzes
Que podem cegar
E um riso de verdades
Que podem doer;
Livros errados,
Mentes insanas
E alguma coisa racional neste poema.

Chegou a hora.
A minha última pena se foi.
Já soltei as armas, os pensamentos.
Eles começaram a assembléia.
O julgamento.
Quem será absolvido?
Não, eu não poderei.
Não pelos meus pensamentos,
Pois antes mesmo de proferir palavras
Eu fui condenado.
A sentença?
Segundo o artigo sete da Ignorância:
Ser Humano.

Sinto o ponto máximo.
Aqui o vento não circula.
O dia, nem a noite,
Reverberam suas cores deprimentes.
Os espaços são longínquos,
O que se come é inodoro,
As gargalhadas são mudas
E a vida... Simplesmente morte.

A existência burocrática.
Fui além!
Descobri vida fora das certidões
E quando as cobranças chegaram
Planei de azul
E nas tempestuosas nuvens
Banhei-me de fúria e calmaria:
Um silêncio que nunca ouvi.

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