sábado, 1 de maio de 2010

textos intermitentes

Eu vim deixando pra trás tudo que eu carreguei a vida inteira. Foi aprendendo a indiferença que eu comecei a perceber o que carregava comigo, em mim mesmo. Precisei de um tempo para, honestamente, fazer uma autocrítica, dos pés a cabeça observar os valores que eu trajava, dos pés a cabeça observar a minha imbecilidade, a minha figura cômica que era apenas reflexo do quanto ridículo e medíocre é a sociedade.
Quanta indiferença tem a natureza. Consigo nascemos e morremos (todos os seres vivos) e nem uma só lágrima derrama de consolo, nem um riso casual ou fingido, nenhum esboço de tristeza, nada. Não pensem que a chuva é a expressão deprimida do mundo. Ela é tão indiferente quanto ele, indiferente a si mesma, ao que faz, à água que derrama, à vida que espalha ao molhar e àquela que tira quando das enchentes, das enxurradas. Não sabe que molha, nem por que molha, simplesmente o faz.
Quando percebi isso, quando descobri o sentido da vida, que é não ter sentido nenhum, que não faz nenhum sentido, foi aí, eu acho, que decidi ser igual à chuva: espalhar-me sem distinção, sem julgamento moral, sem preconceito ou discriminação; sem opressão, pressão, raça, cor, credo ou presunção. Sem pressupor nada.

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